O sol brilhou em 20 de outubro de 2019, em Cernache de Bonjardim. Também o trânsito parou naquela vila do interior, para que se procedesse, com tranquilidade, à inauguração e bênção da estátua à missionação portuguesa.

Este monumento evoca a figura de D. António Barroso, antigo aluno do Seminário das Missões, bem como os 320 «padres de Cernache» saídos daquela instituição, criada para a evangelização dos territórios ultramarinos de Portugal.

Presenciaram estes atos algumas centenas de pessoas, naturais da vila e de Remelhe, a terra natal de D. António Barroso. Por entre os jardins do seminário, ergueram-se duas tendas brancas onde se acolheram os familiares e amigos do antigo bispo missionário, bem como os membros da Conferência Episcopal Portuguesa. Estiveram presentes 29 bispos, representantes de instituições religiosas e autoridades locais. As cerimónias foram conduzidas por Amadeu Araújo, vice postulador da causa de canonização de D. António Barroso.

Foi conferencista Guilherme de Oliveira Martins, antigo ministro e administrador executivo da Fundação Calouste Gulbenkian, que sublinhou o papel interventivo dos «padres de Cernache », na ação missionária do Padroado Português e a posição firme de D. António Barroso na defesa da liberdade religiosa, no país durante a I República, quando governou a diocese do Porto.

Após a bênção do monumento, integrado pela estátua do missionário de Remelhe acompanhado dos 320 nomes dos companheiros do seminário de Cernache do Bonjardim, D. Manuel Linda, bispo do Porto e presidente da Comissão Episcopal da Missão e Nova Evangelização, tomou a palavra para enquadrar, no termo do Ano Missionário, a inauguração da estátua à missionação portuguesa. Atento, recordou também os deveres do Estado no apoio ao voluntariado que incluí também o que é feito pelos agentes da missionação na atualidade. A animação musical foi confiada ao grupo coral de Proença-a- -Nova, que brindou a assembleia com diversas melodias clássicas e um espiritual negro de Angola.

Três séculos de memória das missões portuguesas

Há três séculos que Cernache de Bonjardim vive da memória das missões, representada no Real Colégio das Missões Ultramarinas, criado por decreto de 1791, do rei D. João VI, para preparar sacerdotes para o grão priorado do Crato. Em 1801, com renda da rainha D. Mariana de Áustria, o colégio forma padres para a China.

 Com a extinção das ordens religiosas, em 1834, o Real Colégio é também encerrado. Reabre em 1855. Por estatuto próprio, fixado por Sá da Bandeira, ministro das Colónias, destina- -se então a preparar missionários para os territórios ultramarinos do padroado. Entre os cerca de 5.000 alunos, admitidos até 1912, formaram-se 320 padres e diáconos.

Com a implantação da República, o Colégio das Missões Ultramarinas foi convertido, por dois anos, em Liceu Colonial. Surgiu depois o projeto das Missões Laicas de Afonso Costa, de propaganda civilizadora, que seria extinto em 1926. Em 1930, por instrução do Vaticano, o colégio é integrado na Sociedade Portuguesa das Missões Católicas Ultramarinas, designada, na atualidade, por Sociedade Missionária da Boa Nova.

Texto de Manuel Vilas Boas
Fotos de José Campinho e Sérgio Araújo

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