Bispo do Porto e Missionário (1854-1918)

«Em todo o tempo bendirei o Senhor; o seu louvor estará sempre nos meus lábios. A minha alma gloria-se no Senhor. Que os humildes saibam e se alegrem» (Sal 34,2-3).  

As entusiásticas palavras do salmista de Israel ecoam na vida e na espiritualidade do Servo de Deus António José de Sousa Barroso: no tempo da saúde e no tempo da doença, na hora da calma e na hora da prova, o seu percurso concretizou-se num louvor constante ao Senhor e num generoso serviço aos irmãos mais pobres.

O Servo de Deus nasceu em Remelhe, concelho de Barcelos, Portugal, a 5 de novembro de 1854. Depois da escola primária, frequentou o Real Colégio das Missões Ultramarinas em Cernache de Bonjardim. Nos anos da juventude consolidou a sua intenção de ser sacerdote e, no termo do curso de formação, recebeu a ordenação a 20 de setembro de 1879.

O seu primeiro destino foi Angola (1881-1888), naquele tempo, colónia portuguesa. Aqui exerceu uma intensa actividade pastoral, que foi reconhecida pela Santa Sé com a elevação, em 1891, ao Episcopado, com o título de Himeria, para a vasta prelatura apostólica de Moçambique (1891-1897). Daqueles anos da sua missão em Angola e Moçambique ficaram célebres as suas conferências sobre as Missões, pelos seus conhecimentos, pela sua coragem e zelo.

O zelo apostólico do Servo de Deus recebeu um ulterior incremento com este novo encargo, que ele desempenhou com indiscutível empenho: basta pensar que, no espaço de apenas dois anos, empreendeu quatro viagens, visitando praticamente todo o extenso território confiado ao seu cuidado pastoral. Particular solicitude manifestou ele no campo da formação do clero, na obra da educação dos jovens e na assistência mesmo material das povoações locais. Nos anos 1894- -1895 participou no Concílio Provincial de Goa, Índia; mas, pouco depois, teve de regressar a Portugal por graves motivos de saúde.

Em Lisboa manteve vivo o espírito missionário através da oração e fazendo numerosas conferências sobre os principais argumentos que diziam respeito ao mundo das missões.

Recuperada a saúde, em 1897, foi transferido para a sede diocesana de Meliapor, Índia. No ano seguinte, fez uma viagem a Roma, onde encontrou o papa Leão XIII e presidiu à comissão empenhada na fundação do Pontifício Colégio Português na Urbe (1898). Na Cidade Eterna também não deixou de se empenhar, sobretudo, na procura de missionários a enviar para Moçambique. A entrada na diocese de Meliapor ocorreu em 1898; mas, pouco depois de “ter posto a mão no arado”, regressou à pátria, tendo sido nomeado bispo do Porto (1899). Também na nova realidade o seu zelo se manifestou incansável.

Mas naqueles anos a sociedade portuguesa foi agitada por profundas transformações políticas e culturais: a monarquia foi derrubada e foi instaurado um regime republicano (1910) particularmente agressivo para com a Igreja, de modo a pôr em prática uma política discriminatória e restritiva no seu confronto. Uma das vítimas de tal política foi o Servo de Deus, que foi expulso, por duas vezes, da diocese. Sobretudo nestas circunstâncias, se tornou evidente o seu testemunho de fidelidade a Cristo e à Igreja.

Uma autêntica paixão missionária, percebida desde a infância, caracterizou a vida e a espiritualidade do Servo de Deus. Essa tinha raiz numa relação de amor ao Senhor Jesus que ele vivia com fidelidade e em virtude do qual amou tenazmente a Igreja.

  1. António de Sousa Barroso transformara a sua vida numa oferta perene em plena disponibilidade e confiança. Era este amor profundo a Cristo que o animava em todas as suas variadas iniciativas, promovidas em territórios extremamente difíceis e no problemático contexto da colonização. Era literalmente enamorado da Eucaristia e vivia uma devoção filial e terna para com a Virgem Maria. Era um homem que não se poupava, que procurava estar próximo de todos, em particular de quantos sofriam, de quantos estavam sozinhos e abandonados ou esmagados por qualquer dificuldade.

Foi um verdadeiro apóstolo das populações nativas, e trabalhou e lutou pelo respeito da sua dignidade.

Sempre à procura da comunhão, sofria com toda a divisão e contraste, procurando sempre percorrer os caminhos da união.

Era corajoso e firme na defesa da verdade, da fé, da justiça; forte e doce, decidido e tolerante, prudente e aberto, capaz de escuta e de diálogo. Mesmo nos momentos de impedimento por motivos de saúde ou pelo contexto político, continuou a dar com generosidade todas as suas energias, na fidelidade à identidade sacerdotal e àquele dom de si mesmo que o tinha guiado toda a vida.

Se a sua trajectória de vida se desenrolou no quadro de um preciso momento histórico, o da última fase do colonialismo português e das mudanças políticas do seu país, D. António de Sousa Barroso aparece como um homem à procura da perfeição evangélica, no concreto da vida quotidiana e no exercício do ministério à luz do magistério eclesial.

Pôde regressar ao Porto em 1917; mas no ano seguinte, a 31 agosto 1918, o Servo de Deus chegou ao termo da sua viagem terrena.

Em virtude da fama de santidade, de 21 de julho de 1993 a 5 de novembro de 1994, na Cúria eclesiástica de Porto teve lugar o Processo Diocesano, cuja validade jurídica foi reconhecida por esta Congregação com decreto de 5 de maio de 1995.

Preparada a Positio, a 31 de maio de 2005 teve lugar a reunião dos Consultores Históricos. A seguir, foi discutido, segundo os procedimentos habituais, se o Servo de Deus tinha praticado em grau heróico as virtudes. Com resultado positivo, a 10 de março de 2016, teve lugar o Congresso Peculiar dos Consultores Teólogos. Os Padres Cardiais e Bispos, na Sessão Ordinária de 16 de maio de 2017, presidida por mim, Card. Angelo Amato, reconheceram que o Servo de Deus praticou em grau heróico as virtudes teologais, cardeais e anexas.

Facta demum de hisce omnibus rebus Summo Pontifici Francisco per subscriptum Cardinalem Praefectum accurata relatione, Sanctitas Sua, vota Congregationis de Causis Sanctorum excipiens rataque habens, hodierno die declaravit: Constare de virtutibus theologalibus Fide, Spe et Caritate tum in Deum tum in proximum, necnon de cardinalibus Prudentia, Iustitia, Temperantia et Fortitudine, iisque adnexis, in gradu heroico, Antonii Iosephi De Sousa Barroso, Episcopi Portugallensis et Missionarii, in casu et ad effectum de quo agitur.

Hoc autem decretum publici iuris fieri et in acta Congregationis de Causis Sanctorum Summus Pontifex referri mandavit.

Datum Romae, die 16 mensis Iunii a. D. 2017.

ANGELUS Card. AMATO, S. D. B. Praefectus

+ MARCELLUS BARTOLUCCI Archiep. tit. Mevaniensis a Secretis

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