Levi Eugénio Ribeiro Guerra. Médico, Cientista, Prof. Catedrático jubilado, Administrador, Escritor e Pintor. Foi Director do Hospital de S. João do Porto e introduziu a hemodiálise nos hospitais da região norte. Homem ímpar, com uma obra notável.

Admirador de D. António Barroso, escreveu: “Confesso-me fascinado por esta grandiosa figura da Igreja e de português.

Formulo ante mim a intenção de mergulhar mais fundamente na trajetória espantosa desta figura para dar ocasião ao meu espírito de se enriquecer. Tenho a esperança de poder, então, dar o meu contributo que possa concorrer, modestamente embora, para uma maior divulgação desta venerável e santa figura. Irei informando V. Exa. do que se for passando comigo a este respeito”.

Entretanto, enviou-nos o poema que agora publicamos.

“Quem foi D. António Barroso? “ é uma resposta à pergunta formulada por Margarida Pogarell, no poema “O Senhor da Redoma” (Boletim N.º 30)

Interpelante pergunta
De brilhante conterrânea…
Remelhe terra minhota
De bouças e courelas
O viu vir à luz,
Eram meados do século,
Inda o país era monárquico.
Fruto d’amor acrisolado
De pais apaixonados,
Talvez pouco letrados,
Não de bens abonados…
Por certo em catequese iniciado.
Terminados os tempos primários
Da escola segue para Braga;
Mais tarde para Cernache,
Opção pela missionação.
Enfrenta do pai oposição,
Recebe da mãe apoios necessários,
Um ser determinado!
Aos vinte e cinco anos sacerdote;
Logo de seguida na missionação;
Intrépido, em Angola faz furor,
Recupera missões destruídas
E atrai nativos e, respeitoso
Das tradições, revela-lhes Cristo,
Eleva as mulheres, instrui…
Moderniza a missionação,
Um promotor!
De Angola vai para Moçambique,
Implementa a instrução,
Visita missões longínquas
Com populações quase esquecidas.
Faz obra social de promoção
Eleva a Igreja.
De Moçambique não faz nação,
Mas tenta, de cada moçambicano,
Fazer um cristão.
Certamente que nem a todos batizou,
Mas suas culturas respeitou
Quanto nos é dado saber.
Tal renovação e tal peso alcançou
Que, por reconhecimento,
O Vaticano a Bispo o elevou.
E por imperiosa premência
Para a Índia o enviou.
E lá, em S. Tomé de Meliapor,
Hoje cidade de Chennai, encontra
Missões católicas amortecidas
Por protestantes substituídas
Recupera-as e outras cria…
Anos se passam, não muitos.
Depois de tantas dificuldades enfrentadas
é chamado para Bispo do Porto.
Aí chegado no expirar do século,
Na suas atitudes revela dignidade,
Nas suas palavras, caridade,
No seu atuar, caridade,
Em tudo aparenta simplicidade,
Sorriso franco pelas barbas emoldurado,
Olhar cheio de brilho, pacificado.
Tudo nele, acolhimento,
Tudo nele sabedoria,
Tudo nele compreensão,
De voz forte e sonora.
Atento ao que se passa,
Nada de importante ignora,
Em tudo a glória de Deus procurado.
Um Bispo! Um grande Homem!
A esta cidade arribado,
Apercebe-se das carências,
Na fé e nos costumes…
Uma ação pastoral se impõe,
E a tal se lança, operativo.
Por tudo se interessa,
A todo o mal procura remédio.
A tuberculose grassava.
D. António acorre, pressuroso.
Nasce a Assistência Nacional aos Tuberculosos…
Não é de espantar?
Avalia-se o que isso representou
De socorro e alívio das gentes?
Já no Porto há mais de uma década
Dá-se a implantação da República.
Surgem explícitos ataques à Igreja.
Contrapôs o Bispo intrépida ação,
Sem temor, com firmeza.
Valeu-lhe o exílio de três anos.
Regressado, prosseguiu,
Tudo algo já melhorado,
Dizem os historiadores…
No entanto, a novo exílio sujeito,
Mais breve, não tão sofrido.
Regressado à sua cátedra episcopal,
Ao fim de meses, falece.
Assim, com admiração, seja apreciado:
Espírito universalista,
Arauto do Evangelho,
Pugnador incansável pelos pobres,
E grande patriota.
Modelo de missionário,
Grande figura de bondade, tenaz, rebelde,
Nunca torcendo, nunca quebrando.
Só ele!

Porto, 9 de Dezembro de 2020